quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Consumo consciente - Crise exige pensar antes de comprar

Por Yasmin Barreto e Thamires Nunes

Ela chega em casa depois de um dia pesado de trabalho e vai direto à cozinha. Lá almoça e toma uma lata de coca-cola. Depois vai até a área de serviço e joga os restos do almoço em um latão de lixo e a latinha do refrigerante em outro. Separar o lixo faz parte da rotina de Virgínia Passos, que reclama da dificuldade para o descarte desse lixo. De acordo com ela, “são poucas as cidades que têm o serviço de coleta seletiva, a única saída foi buscar ONGs relacionadas e pedir para que recolhessem o lixo”. Virgínia é médica, tem 52 anos e é mãe de dois filhos, com ela, seus “grandes incentivadores na nova prática de seleção do lixo de casa”.

Selecionar o lixo orgânico dos demais é um ato simples, que pode tranquilamente ser inserido na rotina de qualquer família. Mas pesquisa do Ibope revela que, apesar de 70% a 80% das pessoas ouvidas terem boas intenções em relação a hábitos de preservação ambiental, apenas de 30% realizam as suas intenções.

Rotina como essa, de separar o lixo, é resultado de pensar no que se consome. Afinal, o ato do consumo não se resume apenas a comprar algo, envolve várias etapas e a compra é apenas uma delas. “Antes de comprar tem-se que pensar no produto, analisar se ele é mesmo necessário e, depois da compra, pensar no descarte daquilo que se comprou”, diz o professor do departamento de Biologia da Universidade Federal de Sergipe, Carlos Dias. Segundo ele, “a publicidade, como grande responsável pelo consumo descontrolado e sem previsão de conseqüências sociais e ambientais, é a grande vilã dos tempos atuais”.

Ao promover ideais de vida e beleza perfeitas, a mídia esquece de dar atenção aos problemas enfrentados pelo planeta e, mesmo sabendo de sua influência, não insere em seus meios mensagens de preservação ambiental, observa Dias. Um exemplo de que essa inserção pode dar certo é a atitude tomada por alguns programas de televisão ao divulgarem a substituição de sacolas plásticas pelas “ecobags” (sacolas ecologicamente corretas, feitas de pano ou lona), que agora são itens indispensáveis no kit de compras dos moderninhos: virou “cool” abolir os sacos plásticos.

Desacelerar o consumo é fácil?

Para Dias, a chave para se diminuir o consumo está no “investimento na educação, desde a base, pois as crianças serão os prejudicados num futuro não tão distante. Além de que elas são as que mais cobram atitudes responsáveis por parte dos pais”. Ele também cita o papel da mídia nessa mudança de comportamento, afirmando que esta “poderia aumentar a quantidade de informações e divulgar os meios de preservação, principalmente via televisão que hoje é responsável pelo comportamento de consumo das pessoas em nosso país”.

Soluções simples e adaptáveis ao cotidiano existem e podem ser postas em prática. A dificuldade é, de acordo com o relatório do Worldwatch Institute (organização americana de pesquisa dedicada à sustentabilidade) alterar uma cultura de consumo que já está impregnada na sociedade: “pedir para as pessoas que vivem em culturas de consumo para reduzir seu consumo é equivalente a pedir que elas parem de respirar – podem fazer isso por um momento, mas depois, sufocantes, vão inspirar novamente”.

De acordo com a Akatu, ONG que visa mudar o comportamento dos consumidores, “em 2006 as pessoas no mundo todo consumiram US$ 30,5 trilhões em bens e serviços, 28% a mais do que dez anos antes”. O relatório diz que o único meio de desacelerar o ritmo do consumismo na sociedade atual é mudar hábitos culturais e transformar o consumidor em agente da sustentabilidade, ou não adiantarão esforços governamentais ou avanços na tecnologia para salvar o planeta de riscos ambientais.

http://www.youtube.com/watch?v=Rkj_Xve5eRM

Foto: Portal do Ministério da Saúde.
Vídeo: Instituto Akatu, disponível no Youtube.

domingo, 31 de janeiro de 2010

(In)Justiça ambiental - O que sobrou dos mangues

Por Fernanda Carvalho e Iuri Max



O crescimento desordenado e não sustentável dos últimos trinta anos em Aracaju destruiu quase toda a sua vegetação nativa, com modificações mais expressivas do que se costuma imaginar. A especulação imobiliária e a expansão urbana desenfreada degradaram mangues, restingas, dunas e praias. Áreas imensas foram, e continuam sendo, aterradas e ocupadas sistematicamente, de forma antiecológica e criminosa.

Muitas pessoas já devem ter ouvido falar que Aracaju era um mangue
Mas quantas pararam para pensar em quão verdadeira é essa afirmação? O “desenvolvimento” da cidade acabou por transformar o espaço que um dia era formado de argila, água e plantas em outro completamente diferente, composto por asfalto, esgoto e prédios. Em uma simples pesquisa na internet é possível encontrar grande número de fotos antigas do que hoje é o centro de Aracaju e da praia de Atalaia. Encontrar fotos antigas do bairro Jardins, por outro lado...

Há quem pense que a falta de documentação do bairro é uma estratégia da indústria imobiliária, para evitar que seja exposta a devastação a que foi submetida àquela região. Teorias conspiratórias à parte, por que fotografar uma região onde não há nada? Se hoje a capital cresce em direção aos bairros Mosqueiro e Aruana, há algumas décadas processo semelhante ocorreu com os bairros Salgado Filho, 13 de Julho e, mais recentemente, com o Jardins. Tirar fotos de mangue em uma época em que nem protótipos de câmera digital existiam seria nada além de desperdício.

Uma tradição de devastação

Quando a capital de Sergipe foi transferida de São Cristóvão para o então Povoado de Santo Antônio do Aracaju, seu território poderia ser comparado a uma ilha, cercada a leste pela praia, ao norte por mangues, a oeste por pântanos e ao sul por uma depressão inundável. Em busca do desenvolvimento a alternativa foi aterrar os pontos alagadiços.

Num primeiro momento, ainda no século XIX, os aterros possuíam um fim sanitário, com o intuito de combater a insalubridade reinante. Passados alguns anos, em princípio do século XX, as necessidades expansionistas da cidade culminaram no aterro indiscriminado de manguezais e apicuns (terrenos formados por sedimentos arenosos que margeiam as áreas de manguezal), que passaram a ser novos canteiros de obras.



A falta de conhecimento sobre a região no passado e as medidas tomadas na época justificavam-se pela urgência em tornar a região habitável, o que não ocorre hoje, uma vez que o conhecimento e a importância dos mangues são conhecidos, mas a falta de consciência e as cifras falam mais alto. A parte mais nobre da cidade que compreende os bairros Jardins, 13 de Julho, Garcia e arredores, são bons exemplos disso.
“O shopping e bairro Jardins não existiam, a área era coberta por manguezais. Existiam fazendas na região da Praça da Imprensa e próximas à Av. Hermes Fontes. Onde hoje é a Pizzaria Tarantella e a Escola Parque de Sergipe eram sedes das fazendas. Ainda vemos casas com arquitetura e resquícios de fazendas. No lugar da Nova Saneamento existiam apenas dunas com inúmeros pés de mangaba”, conta em entrevista ao Em Pauta UFS Maria Augusta Mudim Vargas, professora voluntária do Departamento de Geografia e dos Núcleos de Pós-Graduação em Geografia (NPGEO) e do  Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (Prodema) da Universidade Federal de Sergipe.


Crescimento da capital limitou o mangue, não o crontrário

Mangue é passado

O manguezal representa o último ecossistema que restou da cobertura vegetal nativa da Mata Atlântica de Sergipe, que hoje se encontra com 0,6% da área. A destruição avançou implacavelmente sobre essa importante vegetação, que em 1981  possuía 468,7 Km². Em 1984 a área estava reduzida a 262 Km². Em 1991, restavam somente 84 Km².

Em artigo publicado em 2006, as professoras Fernanda Cordeiro de Almeida e Eliane Oliveira de Lima Freire, também do Prodema, afirmaram que “esse tipo de ecossistema permite a fixação de terras e o controle da erosão, controle da linha da costa contra a invasão do mar, reduz a intensidade dos ventos (bosque de manguezal), permite a construção de numerosos nichos de molusco, peixes, crustáceos que buscam nesse ecossistema o abrigo contra predadores, alimentação, reprodução e crescimento”. Mas atualmente o que sobrou do mangue em Aracaju é devastado pelos esgotos.

Diversos pontos da capital são cortados por canais. Eles estão presentes desde os bairros periféricos até os mais “nobres”. Passamos pelos canais quase que diariamente, mas quantos de nós sabemos onde é lançado o esgoto recolhido? Um desses lugares é o Parque Ecológico do Tramandaí. Em uma das placas do parque  pode-se ler “área de preservação do manguezal”. Que tipo de preservação é essa que transforma o mangue em esgoto a céu aberto?



Canal vem de diversos bairros; chega ao Jardins; segue pelo Parque Ecológico do Tramandaí; continua em meio ao mangue; chega até a Avenida Beira Mar; a atravessa por baixo; até que deságua na Praia 13 de Julho.

Lugar de contradições



Deve ser difícil encontrar outro lugar em Aracaju onde as crontadições estejam tão evidentes como na região do Tramandaí. O prédio residencial Mansão do Tramandaí faz homenagem ao ecossitema que ajudou a degradar. A lista de contribuidores é longa. Próximos à réstia de mangue estão supermercados, prédios, colégios, até mesmo uma igreja. Todos frenquentados especialmente pela elite.

Há alguns anos, depois do surgimento do hype do verde a prefeitura resolve intervir. Cercou o manguezal e chamou-o de reserva. A idéia era definir que o crescimento imobiliário não deveria ultrapassar aquele limite? A impressão que fica é a de que o intuito era definir que se podia crescer até aquele ponto. Parece a mesma coisa. Não é. A cerca ali não limita o crescimento, limita o mangue.



A diferença entre a destruição provocada ao longo dos anos na região e a que observamos hoje, principalmente através dos projetos da iniciativa privada, são os fins, a velocidade e o cinismo. Quanto ao Estado, este se esconde atrás das placas de “Preserve” e “Denuncie”, mas é ali que escoa o esgoto de boa parte da cidade. Destrói de forma mais lenta, mas ainda se destrói.

Ligamos para o 0800 que a Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb) disponibiliza para denúncias e a resposta da atendente foi que só registram denúncias quanto ao descarte de lixo e aterro. “Para esgoto você tem que entrar em contato com a Adema”. Ligamos também para o atendimento à denúncias da Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema), mas não conseguimos contato. Enquanto isso o que resta de manguezal continua sendo destruído, mas afinal quem precisa dele?




Foto inicial postada por João Manuel em thread do Skys Craper City

Demais fotos por Iuri Max

Para saber mais: Atlas Digital da Biodiversidade Faunística dos Ecossistemas Aquáticos de Sergipe

Destino do lixo - Aterro, usina ou recliclagem?

Por Elaine Mesoli


O destino das mais de 200 toneladas diárias de lixo produzidas no Brasil é um dos maiores problemas das grandes cidades, atualmente. Mais do que medida de saneamento básico, encontrar um local que receba o que nós mesmos rejeitamos é uma tarefa árdua e necessita de muita articulação política.

Numa cidade com uma população de mais de 500 mil habitantes, como Aracaju, esse lixo representa cerca de 40 toneladas diárias. Além do lixo doméstico, há o lixo industrial, hospitalar e comercial. E para onde vai todo esse resíduo? Vai para um “lixão” no bairro Santa Maria.

Lixão

No bairro Santa Maria, o lixo fica a ceu aberto, porque a Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb), que faz a limpeza dos espaços públicos da cidade e a coleta domiciliar, apenas descarrega o conteúdo dos caminhões sobre o solo, de forma inadequada, sem medidas de proteção ao meio ambiente ou à saúde. O lixo assim lançado traz problemas à saúde pública, uma vez que atrai uma quantidade enorme de insetos e roedores, que se proliferam e espalham doenças. Além de gerar mau cheiro e, principalmente, poluir o solo e as águas superficiais e subterrâneas através do chorume - líquido de cor preta, mau cheiroso e altamente poluidor produzido pela decomposição da matéria orgânica contida no lixo.

Outro problema dos lixões são os catadores de material reciclável, que ficam expostos à contaminação. Em geral, são famílias inteiras que moram nos arredores. Até as crianças perambulam em meio ao lixo, perdendo a infância e vivendo em condições sub-humanas, alimentando-se do que encontram por lá. Mais de 50% do lixo que produzimos e que forma os chamados "lixões" é composto de materiais que podem ser reutilizados ou reciclados. Agora imaginem quanto material que está ocupando esses espaços poderia ter tido outro destino. Atualmente, apenas 2% do total de lixo limpo de Aracaju é reciclado. No Santa Maria os catadores autônomos foram removidos e criaram a Cooperativa dos Agentes Autônomos de Reciclagem de Aracaju (Care). Com essa medida eles geram renda e não vivem mais em condições insalubres.

Entre o aterro e a usina

Os órgãos públicos já discutiram alternativas para o destino do lixo na Grande Aracaju, mas os prefeitos de três cidades que compõem a região metropolitana (Aracaju, Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão) parecem ter achado uma solução que agrada e atende aos municípios. No dia 17 de dezembro de 2009 assinaram um protocolo de intenções para construção de um aterro sanitário na região. "É o primeiro passo de uma longa caminhada rumo à solução de um problema histórico das nossas cidades", afirmou Edvaldo Nogueira, prefeito de Aracaju.

Após inúmeras discussões, a possibilidade de o aterro ser implantado em um terreno no bairro Palestina, em Socorro, vem sendo discutida e já estão sendo feitas pesquisas sobre o impacto ambiental que a região poderá sofrer, cujo resultado está previsto para o mês de fevereiro de 2010. Após isso, as prefeituras irão esperar o licenciamento de construção pela Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema).

O prefeito de São Cristóvão, Alex Rocha, afirmou que o fim dessa “problemática do lixo vai ajudar o meio ambiente”. Mas será que esta solução ajudaria mesmo? O tratamento do chorume eliminado pelos aterros sanitários reduz a poluição. Se houver a coleta de biogás e sua utilização, o Brasil pode sair ganhando, pois conforme o previsto no Protocolo de Quioto poderá obter como recompensa financeira a compensação por créditos de carbono. Depois que o aterro atingir o limite de capacidade de armazenagem pode se transformar num espaço verde ou de lazer e eliminar o efeito negativo. Dessa forma, a ajuda ao meio ambiente poderia se tornar uma questão de interesses políticos e econômicos.

Em sentido contrário à construção do aterro está o sociólogo e professor da Universidade Tiradentes Unit) Geraldo Viana, que defende a instalação de uma usina de valorização de resíduo sólido capaz de transformar a coleta em energia elétrica. Em Recife e no Rio de Janeiro existem projetos semelhantes de transformação do lixo. "Em termos de área utilizada, a usina consegue aproveitar dez vezes menos espaço que o aterro e custa somente um quinto do valor gasto em aterros, alem de utilizar a mão de obra dos próprios catadores", explica.

Mudança de hábitos

Enquanto não surgem soluções práticas e definitivas da falta de impacto e ajuda ao meio ambiente dos vários destinos que o lixo pode ter, um caminho é a adoção de hábitos saudáveis e a redução do lixo em busca de melhor qualidade de vida e preservação da natureza.


Esse é um processo fácil. Bastaria que utilizássemos a fórmula dos REs: Reduzir, Reutilizar, Recuperar, Reciclar e Repensar hábitos de consumo. Também ajudaria fazendo parte da coleta seletiva da cidade. No Brasil esta ainda é uma prática incipiente: pouco mais de 80 municípios,  concentrados nas regiões Sul e Sudeste, possuem o serviço.

Em Aracaju, 20 bairros fazem parte da coleta seletiva e basta que a comunidade manifeste interesse para que seja incluída. Parece não ser muito, mas a incorporação desses hábitos, além de mudar a nossa vida, funciona como uma reação em cadeia: melhora nossa casa, nossa comunidade, nossa cidade, nosso País e torna o mundo que a gente vive um lugar muito mais aprazível.










Para saber mais sobre reciclagem:

Fotos: Google

Leia também:

Reciclagem - Iniciativas transformam lixo em trabalho e renda em Aracaju

Vulnerabilidade ambiental - Lixo agrava problemas de encostas do bairro América

sábado, 30 de janeiro de 2010

Vulnerabilidade ambiental - Lixo agrava problema de encostas do Bairro América

Por Michel Oliveira e Victor Hugo

A todo momento aparece alguém para aumentar a pilha de lixo

Acidentes já aconteceram, mas não foi o suficiente para conscientizar a população do Bairro América sobre os riscos do desmoronamento da encosta do morro onde várias casas foram construídas. A região é considerada como área de risco pela Defesa Civil Municipal, que realiza um trabalho de monitoramento permanente, intensificado no período das chuvas. Duas casas foram demolidas em 2009, pois estavam a ponto de deslizar pela encosta. Outras estão em situação de risco, com alicerces aparentes e paredes rachadas.

A erosão natural tem sido fortemente agravada pela retirada da vegetação e, principalmente, pelo lixo jogado pelos próprios moradores. A remoção da camada vegetal de uma encosta resulta na exposição do solo, aumentando a possibilidade de haver deslizamentos. As raízes das plantas também ajudam a segurar o solo. A simples presença de vegetação não significa que a encosta não vá apresentar problemas, mas diminui muito a possibilidade de que isto venha a acontecer.

Os movimentos de terra causados pelo acúmulo de lixo são muito destrutivos, principalmente no período das chuvas. No Bairro América, sofás, televisões, animais mortos e diversos sacos de lixo deixados pelos moradores rolam ladeira abaixo. Tudo vai parar no meio da avenida, que não possui acostamento. O tráfego no local é intenso. O risco de acidentes é alto, visto que a quantidade de lixo acumulada na parte de cima do morro é muito grande, e a qualquer momento pode desabar.

Confira a fotorreportagem:



Novela mexicana

Dados da Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb) mostram que em 2009 foram realizados quatro mutirões de limpeza, totalizando 38 dias de trabalho. Mas o lixo e a falta de consciência da comunidade permanecem. Os moradores confirmam que há um trabalho efetivo da equipe de limpeza, que periodicamente faz a retirada dos detritos. E o problema não é a falta de coleta, segundo Maria Iracema Xavier, que mora há nove anos no bairro, o carro da coleta passa as segundas, quartas e sextas. “O vizinho colocou um tonel para o povo jogar o lixo, mas não adiantou, continuam jogando na encosta”. Maria Iracema é uma das maiores prejudicadas, sua casa fica na beira do barranco da Rua México, parte mais alta do morro.

A fim de coibir acidentes e dificultar com que os moradores jogassem lixo, a Empresa Municipal de Orbras e Urbanização (Emurb) colocou um alambrado no final da Rua México. Mas a iniciativa foi boicotada pelos próprios moradores e parte dele foi perfurado. Em agosto de 2009 o órgão isolou mais uma vez a área com uma mureta de alvenaria e estacas de concreto. O muro foi perfurado outra vez. Com a proteção quebrada as crianças, que são muitas, brincam próximo ao precipício. “Aqui é muito perigoso, a gente fica preocupado com as crianças”, disse Fabiana Andrade Macedo, moradora do local, enquanto carregava a filha pela mão depois de ver que ela havia atravessado o muro.

Não é por falta de interesse dos órgãos públicos que o acúmulo de lixo continua. “O povo joga lixo mesmo. Eu já joguei uma vez e me arrependi”, garante César dos Santos, morador da Rua México há três anos. Segundo César, a defesa civil já realizou ações de conscientização com as comunidades do bairro, mas a irresponsabilidade de muitos moradores põe em risco a própria integridade dos que vivem nas proximidades da encosta.

Meio ambiente urbano

A ampliação do espaço urbano nessas áreas consideradas de risco, como as encostas, implica em possíveis retiradas da vegetação. Isso contribui para os deslizamentos de terra dos acostamentos em períodos de chuvas. Diante desse quadro, um dos grandes desafios é “incutir a cultura da prevenção não só nos moradores dessas áreas, como também em toda sociedade”, explica o Coordenador Municipal de Defesa Civil, Nicanor Moura Neto.

Para isso, o órgão pretende implantar os Núcleos Comunitários de Defesa Civil (NUDEC’s) nos municípios, em parceria com a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (COMDEC), com o intuito de conscientizar e preparar as comunidades dessas regiões para a prevenção de situações de risco. Nicanor explica que levar a noção de Defesa Civil às escolas municipais também é um importante passo que o órgão realiza na tentativa de “criar a consciência de um meio-ambiente mais limpo e sem riscos”.

A construção das casas muito próximas à encosta já é um perigo,  pois com o passar do tempo o desgaste natural do solo faz com que os sedimentos escorram. No caso do Bairro América a situação foi gravemente acelerada pela falta de consciência da população em retirar a pouca vegetação existente e em ampliar o  desgaste jogando lixo no local.

Reciclagem - Iniciativas transformam lixo em trabalho e renda em Aracaju

Por Cida Marinho e Junior Santos

A reciclagem - conjunto de técnicas que busca aproveitar o lixo que é descartado - surgiu em meados da década de 1980, quando ficou provado que as fontes de petróleo e outras matérias-primas não renováveis estão se esgotando. Com a possibilidade de poupar os recursos naturais e trazer de volta o que antes era jogado fora, esse processo foi se desenvolvendo, ganhando adeptos no mundo inteiro, técnicas foram sendo aprimoradas, contribuindo para a saúde do planeta, também por diminuir reduzir a quantidade de resíduos nos lixões e aterros sanitários, diminuindo a poluição do solo, da água e dos rios


O processo de reciclagem, apesar dos quase 30 anos de existência, ainda depende de muitas ações para ser considerado bem sucedido. Na cidade de Aracaju, por exemplo, é bastante comum encontrar as lixeiras de coleta seletiva em universidades, supermercados, alguns condomínios e nos residenciais do Programa de Arrendamento Residencial (PAR). Apesar disso, apenas 30% do lixo produzido pelos aracajuanos segue para as cooperativas e projetos de reciclagem, entre elas, encontram-se a Sociedade Ecoar e a Cooperativa dos Agentes Autônomos de Reciclagem de Aracaju (Care).


A Sociedade Ecoar


Responsável pela coleta regular de lixo na cidade, a Torre Empreendimentos criou a Sociedade Ecoar, há sete anos. A Ecoar é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), bancada financeiramente pela Torre, que recicla papel usado, transformando-o em objetos que vão desde pastas para congressos a móveis decorativos. Contando com quatro funcionários, sendo um deles voluntário, a instituição faz visita às escolas da cidade, ou vice-versa, divulgando o trabalho desenvolvido e ministrando oficinas de reciclagem, sempre refletindo os cuidados que se deve ter para com a saúde do Planeta e se preocupando com a educação ambiental.

Priscila Silva (foto) é uma das pessoas responsáveis pelo projeto e trabalha na parte administrativa desde 2007. Com um ar delicado e sorriso fácil, mostra-se realmente emocionada com o trabalho que faz. Ela é daquelas pessoas que acreditam que podem mudar o mundo com pequenas atitudes. É ela quem nos guia pelo barracão da Ecoar e mostra com orgulhos os objetos de decoração produzidos nas oficinas. “Aqui os alunos aprendem a fazer o trançado e o papel reciclado”, afirma.

A Torre financia o projeto, mas não é responsável pela coleta dos materiais. Todo o papel é doado por parceiros e torcedores do projeto; quando recebem outro tipo de material reciclado, a Ecoar os repassa à Care - Cooperativa dos Agentes Autônomos de Reciclagem de Aracaju. Segundo Priscila, a Sociedade optou por não trabalhar com outros materiais, pois precisariam de mais espaço, diferentes equipamentos e mais voluntários, o que demandaria uma maior quantidade de investimento financeiro. Através de parcerias com a Fisk Idiomas, a Universidade Federal de Sergipe, através do Cultart, e o Governo do Estado, a Sociedade promove cursos de informática, língua estrangeira e o Educação de Jovens e Adultos (EJA).

A Ecoar abre turmas semestrais e ensina os ofícios da reciclagem do papel contando com o apoio de professores voluntários. O público alvo são os jovens de baixa renda e filhos dos funcionários da Torre. Além das oficinas de papel reciclado, os alunos têm aulas de inglês com professores do curso de idiomas Fisk e material didático cedido pela Torre; dança do ventre no Cultart; e informática com os professores que atuam na EJA. Crianças a partir de seis anos podem procurar a Ecoar para integrar-se em uma turma. Ainda em parceria com a empresa que leciona línguas estrangeiras, esperam abrir turmas de espanhol ainda este ano.
 
Os alunos já produziram até móveis, como um jogo de mesa e cadeiras e um sofá. Para fazer os móveis, eles utilizaram, além do papel, madeira e vidro (foto). Os trabalhos produzidos pelos alunos são bem aceitos e muito procurados. “A gente recebe muita encomenda de pasta para eventos e blocos de papel” afirma Priscila. Os produtos ainda não podem ser comercializados por questões burocráticas. Mesmo assim a Ecoar aceita encomendas antecipadas em troca de matéria-prima, por exemplo. Os objetos encontram-se expostos no galpão de produção, localizado na Rua João Ávila Neto, 195-A, no DIA.


À direita, móveis produzidos pelos alunos da Ecoar, feitos de papel trançado e madeira

Em casa

Quer começar a reciclar? É muito simples e você não vai precisar de inúmeras lixeiras. Veja as dicas:
  • Na cozinha, mantenha uma lixeira para orgânicos e outra para embalagens, frascos e papel.
  • Não desperdice água lavando as embalagens. Com embalagens limpas, você pode armazenar o lixo por mais tempo sem trazer riscos à sua saúde. Ao lavar a louça, deixe embalagens de iogurte e requeijão na pia e use a água de enxágüe para limpá-las. Depois é só secar.
  • Você não precisa separar vidros, plásticos e papéis. Coloque todos juntos em qualquer lixeira de coleta seletiva que as cooperativas farão a triagem.
  • Organize-se! Sugira a seus vizinhos que façam também a separação do lixo orgânico dos recicláveis e avise a uma cooperativa. Eles agendarão a recolha do material.
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Vulnerabilidade ambiental - Lixo agrava problemas de encostas do bairro América

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Recursos hídricos - Rios sergipanos sobrevivem em meio à poluição

por Jackeline Guimarães

Os prognósticos quanto à reserva de água nos próximos 25 anos são dramáticos. Segundo estudiosos sobre o tema, em 2025 boa parte da população mundial estará vivendo em áreas com recursos hídricos escassos. Essa escassez decorre, muitas vezes, da destruição gradual dos mananciais e do agravamento das condições de poluição, além da própria alteração climática do mundo. Em Sergipe, os sinais de alerta sobre esse drama já estão a olhos vistos:
  • Poluição dos rios Paramopama, Vaza Barris e do riacho Besta, por esgotos domésticos, resíduos sólidos, agrotóxicos, entre outros.
  • Lixeira a céu aberto localizada na estrada do Saco, a cerca de 2 km do rio Vaza Barris, e a aproximadamente 500 m do loteamento Lauro Rocha.
  • Deficiência no abastecimento de água para a população, principalmente para as comunidades localizadas na chamada “cidade baixa”, a qual reclama da qualidade da água, considerada “dura” e com muito cloro. Já na cidade alta, o abastecimento é prejudicado no período de chuvas, quando ocorrem inundações nas instalações de captação.

Rio Sergipe
O rio Sergipe nasce em Nossa Senhora da Glória, passa por 26 municípios e deságua no Oceano Atlântico, beneficiando cerca de um milhão de sergipanos, o que corresponde a 56,6% da população do Estado. Ao longo do percurso, 16 outros rios e vários riachos vão lançando suas águas na calha principal do rio Sergipe.
Essa bacia drena 16,7% do Estado. A criação do dia do rio Sergipe partiu de um projeto de lei da então deputada estadual Ana Lúcia Menezes, em 2004. A partir daí, começou a ser discutida uma data significativa, que chamasse a atenção da sociedade e das autoridades para a problemática enfrentada pelo rio. Especialistas descobriram que em 3 de novembro, no início do século XX, o rio foi reconhecido como sergipano e que banhava a capital.
O alto índice de poluição e provas de desrespeito ao rio Sergipe foram constatados na margem do rio em Aracaju: muito lixo, pneus e volumosos canais de despejo de esgoto.
Soluções
Segundo Osmário Santos, coordenador da Frente em Defesa das Águas de Sergipe, em entrevista ao Jornal da Cidade, apesar de todas as ações educativas e chamados de alerta, a poluição no rio Sergipe não tem diminuído nos últimos anos. “Um dos grandes motivos da poluição é que o lixo continua sendo jogado nos canais, manguezais e rios. É algo assustador. Já encontramos até guarda-roupas e televisores. E também tem a falta de esgoto sanitário”, alertou Osmário.

Ele lembra que quando foi iniciado o projeto Aracaju de Tototó “todo mundo achava que o rio estava às mil maravilhas”. No entanto, especialistas na área ambiental foram consultados e provaram, através de estudos técnicos, que o rio estava altamente poluído. “Estamos fazendo um trabalho interessante junto às escolas da rede púbica e particular, que pretende despertar a preocupação das novas gerações para as questões ambientais”, acrescentou Osmário, lembrando que todo dia 3 de novembro estudantes chamam atenção da comunidade para a questão através do abraço simbólico no rio Sergipe.
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevê mais de R$ 303 milhões no esgotamento sanitário da Grande Aracaju, que passaria o volume de esgoto tratado de 34% para 65%. Em Aracaju, Barra dos Coqueiros, São Cristóvão e Nossa Senhora do Socorro estão sendo executadas obras que prometem ampliar a oferta de água e o atendimento dos serviços de esgotamento sanitário para uma parte significativa da população até 2010. Já o Programa Águas de Sergipe, orçado em US$ 117 milhões a serem financiados pelo Banco Mundial, pretende fortalecer as políticas públicas voltadas para o meio ambiente e contribuir para a revitalização da bacia do rio Sergipe.

Rio Poxim

O rio Poxim, cujo ponto de confluência é próximo à embocadura do Rio Sergipe, forma com este o estuário no qual está assentada a cidade de Aracaju. Desde 1958 tem sido uma das fontes de suprimento de água para Aracaju. Ele é hoje uma das mais relevantes preocupações hídricas do governo do estado,  respondendo por 20,10% da demanda de água da capital.
Segundo estudos da Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema), o Rio Poxim é o mais poluído do Estado. A sujeira é tanta que todas as praias que recebem a água desse rio são consideradas impróprias para o banho. Ele percorre vários bairros da capital sergipana, onde a maioria não possui uma rede de saneamento correta, e todos os dejetos que saem das casas, sejam eles orgânicos ou artificiais, são jogados diretamente no Poxim.
O Conjunto Beira Rio, no Bairro Inácio Barbosa, há muito tempo era um dos mais prejudicados pela poluição do rio. O mau cheiro de tudo que o rio trazia em seu trajeto incomodava toda a população. Mas segundo o morador Odyr da Costa, a situação do rio tem mudado e o mau cheiro não é mais problema, já que fizeram uma nova rede de esgoto. Já no cais próximo a sua casa, o morador Fernando Dantas, que pescava no Rio Poxim, relatou: “Estou aqui só para passar o tempo, esse é um rio quase morto, só consigo pegar pequenos bagres ou baiacus”.
No trecho do rio que corta o município de São Cristóvão, toda a infraestrutura de saneamento é precária, principalmente em termos de rede de esgotos, de disposição de lixo e de coleta das águas pluviais. O bairro Eduardo Gomes, por exemplo, ainda dispõe de rede de esgotos e de sistema de galerias, enquanto no Rosa Elze há somente galerias e, nos outros, nenhuma infraestrutura. Sem falar que nas comunidades Parque dos Faróis e Rosa Elze existem invasões (áreas de favelas) na faixa de domínio do rio, o que acentua ainda mais o problema da poluição. A destinação do lixo também é precária nessas duas comunidades, 45% dos resíduos são dispostos em área abertas; 33% são queimados; 8% enterrados e somente 12% são coletados pelos municípios. Foi constatada nesses lugares a presença de lixo nas margens do rio e de plantas aquáticas, principalmente Jacinto Aquático e Junco. O quadro de doenças entre os moradores da área, principalmente daqueles que são pescadores, vai de micoses (40%); verminoses (33,33%); disenteria (20%) à esquistossomose (6,67%). 



O trecho do Rio Poxim que compreende a área alagada, possui uma vegetação emergente situada próxima aos bairros Parque dos Faróis, Tijuquinha, Rosa Elze e Eduardo Gomes. Além dessas comunidades, cujo contingente populacional supera 35.000 habitantes, existem também criatórios de bovinos e suínos. Desse modo, ficam evidentes que as principais causas de sua degradação são: o desmatamento de suas margens e nascentes; a exploração irregular das margens e da calha; o despejo de efluentes domésticos, industriais, agroindustriais, e, sobretudo, a ocupação inadequada de seu entorno.
Através de recursos financeiros do Fundo Estadual de Recursos Hídricos, a Semarh desenvolveu o Projeto Recuperando Nascentes e Municípios, que visa recuperar as 18 nascentes do Rio Poxim, do Siriri Vivo e do Cajueiro dos Veados. Essa medida irá regularizar o curso de água da região, promover o equilíbrio ambiental e o uso sustentável dos recursos naturais. Todo o trabalho de recuperação de nascentes e matas ciliares é realizado em parceria com o Ministério Público, a Sociedade Semear e a Universidade Federal de Sergipe.

Rio Vaza Barris

O rio Vaza-Barris é um rio perene, com cerca de 450 quilômetros de comprimento que atravessa a Bahia, onde nasce, e desagua no litoral sergipano, no local denominado Mosqueiro. As principais fontes de poluição dos recursos hídricos da bacia do Vaza Barris referem-se às atividades de agricultura e pastagem, que geram processos erosivos com consequente assoreamento dos rios e alteração da qualidade das águas, devido ao uso de agrotóxicos, desmatamento, lançamento de dejetos de animais, descarte de embalagens de agroquímicos, etc

Por outro lado, as atividades urbanas e industriais lançam substâncias que podem alterar a qualidade da sua água através da introdução de elementos nocivos ao meio (lançamento de esgotos domésticos, disposição inadequada de resíduos sólidos, efluentes industriais e poluição atmosférica). Constata-se que a região está bastante alterada pela ação antrópica, cujas atividades provocam desequilíbrio aos ecossistemas naturais.
Rio Paramopama
Da embocadura à nascente, o principal rio do município de São Cristóvão depara-se com problemas ambientais de toda ordem. A dragagem de areia do fundo do rio ainda compromete a reabilitação da vida marinha. O ato danoso tinha como justificativa o Projeto Catamarã, que prometia colocar São Cristóvão na rota do turismo, gerando emprego e renda. O projeto, ironicamente, foi inviabilizado pelo assoreamento provocado pela dragagem.
Outro problema é o lançamento de lixo nos mangues e águas do rio. Infelizmente, subsiste como ponto pacífico na sociedade brasileira a idéia de que “todo esgoto leva ao mar”. Um terceiro problema do “nosso rio esgoto” são as enchentes. Estas ocorrem sem periodicidade e inundam parte da cidade baixa e toda a área do centro comercial.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Agroecologia - Em busca de uma agricultura sustentável

Por Larissa Ferreira

Muitas vezes conceituada como um tipo de agricultura socialmente justa ou que não causa destruição ao meio ambiente, a agroecologia é um conjunto de técnicas e estilos para uma agricultura sustentável, e de estratégias para o desenvolvimento rural, através da produção e do cultivo de alimentos de forma natural, sem a utilização de agrotóxicos e adubos sintéticos. Além disso, a agroecologia abrange diversos ramos e especificações, como a agricultura biodinâmica, agricultura ecológica, agricultura natural, agricultura orgânica, os sistemas agro-florestais e a permacultura.

Durante os anos 1990, a agroecologia passou a ser bastante difundida. No entanto, os primeiros movimentos em prol de uma agricultura mais saudável vêm desde a Primeira Guerra Mundial, a exemplo da Inglaterra, que implantou a agricultura orgânica, e da Áustria, com a prática da agricultura biodinâmica.

Com o final da Segunda Guerra, no entanto, novos processos nas indústrias químicas e farmacêuticas trouxeram uma “revolução” na agricultura. Para atender ao crescimento populacional, e aumentar a produção, foram criados os primeiros agrotóxicos e adubos sintéticos, bem como a utilização de sementes geneticamente melhoradas.

Em contraposição a essa Revolução Verde, surgiram em vários países movimentos que apoiavam o uso racional dos recursos naturais, a exemplo do Japão (agricultura natural), da França (agricultura regenerativa), dos Estados Unidos (agricultura biológica), além das formas de produção já existentes, como a biodinâmica e a orgânica.

Agroecologia no Brasil

No Brasil, o conceito de agroecologia surgiu através da criação de organizações não-governamentais, no início dos anos 1980. Hoje, esse conceito está presente em todas as regiões do país, principalmente entre as pequenas comunidades e os assentamentos, além de envolver uma enorme quantidade de cientistas, acadêmicos e estudiosos de diversas áreas, como a sociologia e antropologia.


No Paraná, por exemplo, existem 5.300 produtores orgânicos, responsáveis por uma produção anual de 108 mil toneladas, cultivados ao longo de uma área de 3,8 mil hectares. Essa produção de alimentos mais saudáveis e ecologicamente corretos cresce cerca de 20% ao ano, mas o preço dos produtos agroecológicos chega a ser 30% mais caros que os da agricultura tradicional.

Experiência local

Muitas universidades brasileiras possuem projetos na área de agroecologia, como a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) com as ações do grupo AGROVIDA (Grupo de Apoio a Agricultura Familiar e Agroecologia); a Universidade Federal de Alagoas (UFAL) com o GAC (Grupo Agroecológico Craibeiras); e a Universidade Federal do Paraná (UFPR) com o GEAE (Grupo de Estudos de Agricultura Ecológica). Na Universidade Federal de Sergipe (UFS), através da união de estudantes de biologia, engenharia agronômica e engenharia florestal, surgiu em 2005, o Espaço de Vivência Agroecológica (EVA).

Apesar de ter como objetivos a realização de estudos de temas agroecológicos, a participação em eventos acadêmicos e científicos, o desenvolvimento de pesquisas e práticas alternativas – como sistemas agroflorestais sucessionais (Saf’s) e hortas orgânicas – além da construção de um novo modelo agrário, o EVA ainda é pouco conhecido na universidade.


Porém, em mais de um ano de existência, o grupo conseguiu uma área no Campus de São Cristóvão para as práticas de plantio, maior número de alunos agregados e um espaço para difundir os conceitos da agroecologia. Além disso, em 2006, o grupo levou para a universidade o “V Simpósio sobre Sistemas Agroflorestais”, em parceria com Embrapa, Petrobrás e UFS. Outro feito foi a oportunidade de apresentar o EVA no 36º Congresso Brasileiro de Estudantes de Engenharia Florestal, em Piracicaba-SP, e a participação no IX Encontro Regional de Agroecologia, que aconteceu em 2007, em Recife.

As reuniões, que no início aconteciam às quartas-feiras no Bambuzal, agora acontecem no EVA  às sextas-feiras – dia escolhido como o “Dia Agroecológico”, com trabalho pela manhã na horta e reuniões à tarde.



Imagem: Blog Movimento Agroecológico MAE

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Turismo sustentável - Como aliar infra-estrutura com preocupação ambiental na Orla de Aracaju?

Por Rafael Gomes e Carlos Alberto

Não parece mais estranho para os sergipanos e para boa parte dos turistas que visitam o Estado achar a orla de Aracaju uma das mais modernas e bonitas do Brasil. Ponto de encontro da população, é também o lugar em que se concentra a maior parte dos hotéis e restaurantes da cidade, com opções para todos os gostos e, principalmente, todos os bolsos.

Mas apesar de fazer parte do cotidiano dos aracajuanos, a Orla, como hoje é conhecida a Praia de Atalaia, só existe há pouco mais de 15 anos. Muitos jovens talvez nem se lembrem que para ir a praias como Atalaia Velha ou Sarney era uma verdadeira “viagem”.
Poucos sabem - ou se lembram - que na antiga praia de Atalaia só existia um calçadão e o balaústre, e que para chegar ao mar bastava caminhar poucos metros. A praia foi aterrada para o “progresso” e agora o banhista precisa dar uma boa caminhada para alcançar a água. Em determinadas áreas, essa distância supera um pouco mais de 1 km. Ainda assim, ela possui seu charme. Um convívio harmônico com o meio ambiente e a beleza criada pelo homem. Será mesmo?
 
As mudanças ocorridas pelas transformações climáticas parecem estar chegando à praia de Atalaia. Há pouco mais de 5 anos, na região onde é realizada boa parte das apresentações de shows, havia um píer que dava acesso à praia, que se encontrava há mais de 100 metros. Durante esses anos, o mar destruiu o pier e, aos poucos, vem se aproximando da região dos bares e da Feira de Criatividade.

Apesar de parecer um tanto catastrófico o que está acontecendo, ainda é possível enxergar diversas belezas na praia de Atalaia e em toda extensão da Orla, com forte potencial para a realização do que é conhecido como turismo ambiental, aliando as belezas naturais encontradas na região a diversas atividades turísticas.
 
Infra-estrutura hoteleira
 
Se, por um lado, a possibilidade de aliar o turismo ambiental com o esporte oferece uma gama maior de atrações para o turista e para os moradores, de certo falta uma percepção melhor para a rede hoteleira em aprimorar essas qualidades, o que com certeza refletiria em número maior de turistas. “Ainda enxergamos o turista que chega em Aracaju interessado somente em descanso”, explica Augusto. F. Souza, sub-gerente do Hotel da Costa, localizado na praia de Atalaia. Isso fica bem nítido quando são vistos os cartazes e folders voltados para as variedades de turismo encontradas em Sergipe. Segundo Augusto, o que falta também é um pouco mais de audácia, tanto da Secretaria de Turismo quanto dos empresários: “Pode-se atrair muito mais turistas pra cá, mas tanto os empresários quanto o governo têm que colaborar”, salienta.

Essa visão é defendida também por Gabriela. Pereira, diretora de marketing do Hotel Aquarius. Para ela, o governo poderia ajudar muito mais na melhoria e na preservação da Orla. “É muito difícil você agradar o turista que se depara, por exemplo, com uma praia suja, ou com bancos quebrados”, ressalta. Pereira é incisiva nessa questão e avalia que esses fatores interferem na política de marketing do empreendimento. “Focamos na imagem do Hotel, nas qualidades do Hotel e nas condições que ele dispõe para o turista. O fato de estarmos na Orla também ajuda na imagem do Hotel e da Orla. Mas só isso não basta”.

Os dois profissionais são responsáveis pelos setores de marketing de cada hotel, mas, parecem nunca ter ouvido falar em marketing ambiental ou em ecomarketing, que na verdade são ações de estratégias de consumo que visem causar o menor impacto possível no meio ambiente, preservando a qualidade de vida dentro de uma política ambiental. O que parece estar bem distante da realidade desses e de outros hotéis de Aracaju.

Tanto Gabriela quanto Augusto acreditam que as imagens que os empreendimentos dispõem são muito mais atrativas do que investir nas potencialidades ambientais que a Orla disponibiliza e, com razão, acham que há uma falta de estratégia por parte do governo e da rede hoteleira também.
E o turista?

Os meses das férias de verão atraem número maior de turistas, que apreciam a beleza local e engrandecem o espírito hospitaleiro e amigável encontrado em Aracaju. “Vocês são maravilhosos”, elogia dona Alda, turista do Espírito Santo. Mas a boa impressão pode cair por terra mediante o descaso que a população tem com o meio ambiente e com o seu principal cartão postal: “Chega a ser um absurdo”. diz Rodolfo Almeida, que trabalha como salva-vidas na orla de Atalaia.
 
As imagens captadas por Almeida (abaixo) retratam perfeitamente o completo desleixo que a as pessoas têm com a praia. Lixos espalhados, cocos, copos, entre outros, são jogados rotineiramente pelos banhistas. “Não é estranho ver alguém cortado ou machucado pelo lixo. O pior é que eles mesmos que sujam e depois que se machucam vêm procurar ajuda”, reclama o salva-vidas.

As observações de Almeida interferem na imagem da Orla e da cidade de maneira negativa. É possível conscientizar e desenvolver políticas que impeçam essas atitudes e aumentar o número de turistas para a cidade, além de criar uma nova demanda pelo turismo ambiental. Resta agora aliar a vontade política com a consciência ambiental de cada um de nós, turistas e moradores.

Em tempo:


Turismo Ambiental não é a mesma coisa que Ecoturismo. Enquanto o primeiro - também chamado de turismo sustentável - trabalha as potencialidades ambientais associadas a infra-estrutura e facilidades de serviços, o ecoturismo envolve atividades dentro de “ambientes ecológicos”, sem agredí-los ou transformá-los, agregando quase sempre aventura e prática de esportes radicais como o rafting e o trekking.


Fotos: Infonet e Rodolfo Almeida

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Qualidade das águas ganha sinalização em Sergipe


A Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema) começou no mês de junho a sinalizar a balneabilidade das águas sergipanas. Começando pelas praias aracajuanas de Atalaia, aruana e Sarney, serão colocadas placas indicativas da qualidade da água em mais 30 praias de água doce e salgada no estado de Sergipe.

A balneabilidade é a capaciade que o local tem de possibilitar o banho e a prática de esportes em suas águas e ela é determinada através de análises que quantificam os coliformes fecais das águas. A balneabilidade é verificada quinzenalmente em Aracaju e mensalmente no interior do estado.

De acordo com Genival Nunes, presidente da Adema, “a ação de sinalizar balneabilidade com placas da Adema e Secretaria do Estado do Meio Ambiente será otimizada em todas as praias e lagoas e terá acompanhamento semanal”. No portal da Adema o monitoramento das praias de água doce e salgada e das lagoas da Orla de Atalaia é divulgado com freqüência mensal ou semanal.

Autarquia Especial

No último dia 26, a Adema, através de um projeto de lei, tornou-se Autarquia Especial. Para o presidente da Autarquia, Genival Nunes, “essa decisão corrige um erro histórico, a transformação da ADEMA em autarquia especial eleva a auto-estima dos nossos funcionários que não entendiam como o estado havia relegado o meio ambiente para segundo plano.”

Transformada em autarquia especial, a Adema ganha maior flexibilidade na aplicação de recursos, ampliação do quadro de profissionais, cria uma gerencia de informática e geoprocessamento e mais eficiência e rapidez no atendimento e na emissão de licenças ambientais.

Por Yasmin Barreto

Foto: Portal da Adema

Escolas investem em educação ambiental

Algumas instituições de ensino de Aracaju contam com uma proposta de ensino voltada para a educação ambiental. Principalmente as escolas particulares e de idiomas é que estão com uma visão mais voltada para um investimento na educação de preservação ao Meio Ambiente.

A exemplo do colégio Arquidiocesano e da escola de idiomas Yázigi, há um novo perfil educacional traçado, onde os professores e diretores fazem do ensino escolar um exemplo de cidadania, focado na preservação do Planeta.




Alunos no Projeto "Cheirinho de mato" com o professor José Bezerra

O colégio Arquidiocesano implantou em março de 2006 um projeto, orientado pelo professor José Bezerra, chamado “Cheirinho de Mato”, uma mini-fazenda dentro das próprias instalações do colégio, para que os alunos possam conhecer e praticar de perto os assuntos que são vistos em sala de aula. O espaço educacional possui moinho de vento, horta orgânica, monjolo, farmácia com espécies de plantas vivas, viveiro de produção de mudas, oficina de reciclagem e animais, para que os alunos pratiquem o que aprendem nas aulas teóricas.

A escola de idiomas Yázigi lança uma campanha de cidadania nacional de ecoeficiência, onde a empresa cumpre com investimentos de ajuda ao meio ambiente e conscientiza as pessoas a participarem de uma mudança por um mundo melhor e menos abalado pelos impactos ambientais. “Atitudes ecoeficientes devem fazer parte do nosso dia-a-dia, pois grandes mudanças vieram de pequenos começos”, declara Mércia Dias, assistente de marketing do Yázigi.

Gincana Ecoeficiente Yázigi

Com o projeto Yázigi Ecoefficiency os alunos participaram de gincanas ecoeducativas, com doação de livros usados para o sebo solidário; fizeram atividades pedagógicas referentes ao tema abordado na campanha; trocaram garrafas pets e latas por descontos na taxa de matrícula, e trocaram alimentos ou cobertores por ecobags, as sacolas ecologicamente corretas, feitas de tecido. Para Mércia Dias a educação ambiental sempre foi posta em prática pelo Yázigi. “O projeto educativo ambiental permanece além da Campanha Ecoeficiente, pois a questão de meio ambiente está presente desde o DNA do Yázigi”, afirma ela.

Assim as escolas fazem a parte delas, colocar em prática a educação como base de responsabilidade sócio-ambiental. Para que as pessoas percebam que a partir de gestos simples nas escolas e posteriormente praticadas em casa, façam com que haja uma grande contribuição na sustentabilidade do Planeta.
Fotos: Divulgação.
Por Thamires Nunes

Bairro Santos Dummont terá plano piloto de coleta de lixo seletiva

Na última quinta-feira, 3, alguns representantes da Unidade de Saúde da Família (USF), de escolas públicas do bairro Santos Dummont e da Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb) se reuniram com o intuito de discutir o plano piloto de coleta de lixo seletiva no próprio bairro.

Esse projeto visa fazer uma coleta de lixo seletiva nas escolas e nas casas do bairro Santos Dummont, proporcionando assim, que haja uma fonte de renda extra para aquelas pessoas que recolhem lixo e vendem para locais de reciclagem. Esse plano piloto discute inicialmente o cadastramento dos catadores de lixo da área, e do fornecimento pela Emsurb de quatro tonéis a serem instalados. Ainda existe uma possibilidade de esse projeto se estender para outros bairros, caso haja efetivo sucesso no primeiro local adotado.

Além da fonte de renda extra que vai ser gerada para os catadores credenciados, haverá uma contribuição para a limpeza do bairro e para preservação do meio ambiente. Há também o incentivo de alguns parceiros, como exemplo a Cooperativa dos Agentes Autônomos de Reciclagem de Aracaju (Care), e que no próximo dia 17 de julho acontecerá outra reunião para discutir essa parceria e de que forma a Care vai ajudar nesse plano.

Por Thamires Nunes