quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Turismo sustentável - Como aliar infra-estrutura com preocupação ambiental na Orla de Aracaju?

Por Rafael Gomes e Carlos Alberto

Não parece mais estranho para os sergipanos e para boa parte dos turistas que visitam o Estado achar a orla de Aracaju uma das mais modernas e bonitas do Brasil. Ponto de encontro da população, é também o lugar em que se concentra a maior parte dos hotéis e restaurantes da cidade, com opções para todos os gostos e, principalmente, todos os bolsos.

Mas apesar de fazer parte do cotidiano dos aracajuanos, a Orla, como hoje é conhecida a Praia de Atalaia, só existe há pouco mais de 15 anos. Muitos jovens talvez nem se lembrem que para ir a praias como Atalaia Velha ou Sarney era uma verdadeira “viagem”.
Poucos sabem - ou se lembram - que na antiga praia de Atalaia só existia um calçadão e o balaústre, e que para chegar ao mar bastava caminhar poucos metros. A praia foi aterrada para o “progresso” e agora o banhista precisa dar uma boa caminhada para alcançar a água. Em determinadas áreas, essa distância supera um pouco mais de 1 km. Ainda assim, ela possui seu charme. Um convívio harmônico com o meio ambiente e a beleza criada pelo homem. Será mesmo?
 
As mudanças ocorridas pelas transformações climáticas parecem estar chegando à praia de Atalaia. Há pouco mais de 5 anos, na região onde é realizada boa parte das apresentações de shows, havia um píer que dava acesso à praia, que se encontrava há mais de 100 metros. Durante esses anos, o mar destruiu o pier e, aos poucos, vem se aproximando da região dos bares e da Feira de Criatividade.

Apesar de parecer um tanto catastrófico o que está acontecendo, ainda é possível enxergar diversas belezas na praia de Atalaia e em toda extensão da Orla, com forte potencial para a realização do que é conhecido como turismo ambiental, aliando as belezas naturais encontradas na região a diversas atividades turísticas.
 
Infra-estrutura hoteleira
 
Se, por um lado, a possibilidade de aliar o turismo ambiental com o esporte oferece uma gama maior de atrações para o turista e para os moradores, de certo falta uma percepção melhor para a rede hoteleira em aprimorar essas qualidades, o que com certeza refletiria em número maior de turistas. “Ainda enxergamos o turista que chega em Aracaju interessado somente em descanso”, explica Augusto. F. Souza, sub-gerente do Hotel da Costa, localizado na praia de Atalaia. Isso fica bem nítido quando são vistos os cartazes e folders voltados para as variedades de turismo encontradas em Sergipe. Segundo Augusto, o que falta também é um pouco mais de audácia, tanto da Secretaria de Turismo quanto dos empresários: “Pode-se atrair muito mais turistas pra cá, mas tanto os empresários quanto o governo têm que colaborar”, salienta.

Essa visão é defendida também por Gabriela. Pereira, diretora de marketing do Hotel Aquarius. Para ela, o governo poderia ajudar muito mais na melhoria e na preservação da Orla. “É muito difícil você agradar o turista que se depara, por exemplo, com uma praia suja, ou com bancos quebrados”, ressalta. Pereira é incisiva nessa questão e avalia que esses fatores interferem na política de marketing do empreendimento. “Focamos na imagem do Hotel, nas qualidades do Hotel e nas condições que ele dispõe para o turista. O fato de estarmos na Orla também ajuda na imagem do Hotel e da Orla. Mas só isso não basta”.

Os dois profissionais são responsáveis pelos setores de marketing de cada hotel, mas, parecem nunca ter ouvido falar em marketing ambiental ou em ecomarketing, que na verdade são ações de estratégias de consumo que visem causar o menor impacto possível no meio ambiente, preservando a qualidade de vida dentro de uma política ambiental. O que parece estar bem distante da realidade desses e de outros hotéis de Aracaju.

Tanto Gabriela quanto Augusto acreditam que as imagens que os empreendimentos dispõem são muito mais atrativas do que investir nas potencialidades ambientais que a Orla disponibiliza e, com razão, acham que há uma falta de estratégia por parte do governo e da rede hoteleira também.
E o turista?

Os meses das férias de verão atraem número maior de turistas, que apreciam a beleza local e engrandecem o espírito hospitaleiro e amigável encontrado em Aracaju. “Vocês são maravilhosos”, elogia dona Alda, turista do Espírito Santo. Mas a boa impressão pode cair por terra mediante o descaso que a população tem com o meio ambiente e com o seu principal cartão postal: “Chega a ser um absurdo”. diz Rodolfo Almeida, que trabalha como salva-vidas na orla de Atalaia.
 
As imagens captadas por Almeida (abaixo) retratam perfeitamente o completo desleixo que a as pessoas têm com a praia. Lixos espalhados, cocos, copos, entre outros, são jogados rotineiramente pelos banhistas. “Não é estranho ver alguém cortado ou machucado pelo lixo. O pior é que eles mesmos que sujam e depois que se machucam vêm procurar ajuda”, reclama o salva-vidas.

As observações de Almeida interferem na imagem da Orla e da cidade de maneira negativa. É possível conscientizar e desenvolver políticas que impeçam essas atitudes e aumentar o número de turistas para a cidade, além de criar uma nova demanda pelo turismo ambiental. Resta agora aliar a vontade política com a consciência ambiental de cada um de nós, turistas e moradores.

Em tempo:


Turismo Ambiental não é a mesma coisa que Ecoturismo. Enquanto o primeiro - também chamado de turismo sustentável - trabalha as potencialidades ambientais associadas a infra-estrutura e facilidades de serviços, o ecoturismo envolve atividades dentro de “ambientes ecológicos”, sem agredí-los ou transformá-los, agregando quase sempre aventura e prática de esportes radicais como o rafting e o trekking.


Fotos: Infonet e Rodolfo Almeida

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