sábado, 30 de janeiro de 2010

Vulnerabilidade ambiental - Lixo agrava problema de encostas do Bairro América

Por Michel Oliveira e Victor Hugo

A todo momento aparece alguém para aumentar a pilha de lixo

Acidentes já aconteceram, mas não foi o suficiente para conscientizar a população do Bairro América sobre os riscos do desmoronamento da encosta do morro onde várias casas foram construídas. A região é considerada como área de risco pela Defesa Civil Municipal, que realiza um trabalho de monitoramento permanente, intensificado no período das chuvas. Duas casas foram demolidas em 2009, pois estavam a ponto de deslizar pela encosta. Outras estão em situação de risco, com alicerces aparentes e paredes rachadas.

A erosão natural tem sido fortemente agravada pela retirada da vegetação e, principalmente, pelo lixo jogado pelos próprios moradores. A remoção da camada vegetal de uma encosta resulta na exposição do solo, aumentando a possibilidade de haver deslizamentos. As raízes das plantas também ajudam a segurar o solo. A simples presença de vegetação não significa que a encosta não vá apresentar problemas, mas diminui muito a possibilidade de que isto venha a acontecer.

Os movimentos de terra causados pelo acúmulo de lixo são muito destrutivos, principalmente no período das chuvas. No Bairro América, sofás, televisões, animais mortos e diversos sacos de lixo deixados pelos moradores rolam ladeira abaixo. Tudo vai parar no meio da avenida, que não possui acostamento. O tráfego no local é intenso. O risco de acidentes é alto, visto que a quantidade de lixo acumulada na parte de cima do morro é muito grande, e a qualquer momento pode desabar.

Confira a fotorreportagem:



Novela mexicana

Dados da Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb) mostram que em 2009 foram realizados quatro mutirões de limpeza, totalizando 38 dias de trabalho. Mas o lixo e a falta de consciência da comunidade permanecem. Os moradores confirmam que há um trabalho efetivo da equipe de limpeza, que periodicamente faz a retirada dos detritos. E o problema não é a falta de coleta, segundo Maria Iracema Xavier, que mora há nove anos no bairro, o carro da coleta passa as segundas, quartas e sextas. “O vizinho colocou um tonel para o povo jogar o lixo, mas não adiantou, continuam jogando na encosta”. Maria Iracema é uma das maiores prejudicadas, sua casa fica na beira do barranco da Rua México, parte mais alta do morro.

A fim de coibir acidentes e dificultar com que os moradores jogassem lixo, a Empresa Municipal de Orbras e Urbanização (Emurb) colocou um alambrado no final da Rua México. Mas a iniciativa foi boicotada pelos próprios moradores e parte dele foi perfurado. Em agosto de 2009 o órgão isolou mais uma vez a área com uma mureta de alvenaria e estacas de concreto. O muro foi perfurado outra vez. Com a proteção quebrada as crianças, que são muitas, brincam próximo ao precipício. “Aqui é muito perigoso, a gente fica preocupado com as crianças”, disse Fabiana Andrade Macedo, moradora do local, enquanto carregava a filha pela mão depois de ver que ela havia atravessado o muro.

Não é por falta de interesse dos órgãos públicos que o acúmulo de lixo continua. “O povo joga lixo mesmo. Eu já joguei uma vez e me arrependi”, garante César dos Santos, morador da Rua México há três anos. Segundo César, a defesa civil já realizou ações de conscientização com as comunidades do bairro, mas a irresponsabilidade de muitos moradores põe em risco a própria integridade dos que vivem nas proximidades da encosta.

Meio ambiente urbano

A ampliação do espaço urbano nessas áreas consideradas de risco, como as encostas, implica em possíveis retiradas da vegetação. Isso contribui para os deslizamentos de terra dos acostamentos em períodos de chuvas. Diante desse quadro, um dos grandes desafios é “incutir a cultura da prevenção não só nos moradores dessas áreas, como também em toda sociedade”, explica o Coordenador Municipal de Defesa Civil, Nicanor Moura Neto.

Para isso, o órgão pretende implantar os Núcleos Comunitários de Defesa Civil (NUDEC’s) nos municípios, em parceria com a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (COMDEC), com o intuito de conscientizar e preparar as comunidades dessas regiões para a prevenção de situações de risco. Nicanor explica que levar a noção de Defesa Civil às escolas municipais também é um importante passo que o órgão realiza na tentativa de “criar a consciência de um meio-ambiente mais limpo e sem riscos”.

A construção das casas muito próximas à encosta já é um perigo,  pois com o passar do tempo o desgaste natural do solo faz com que os sedimentos escorram. No caso do Bairro América a situação foi gravemente acelerada pela falta de consciência da população em retirar a pouca vegetação existente e em ampliar o  desgaste jogando lixo no local.

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