domingo, 31 de janeiro de 2010

Destino do lixo - Aterro, usina ou recliclagem?

Por Elaine Mesoli


O destino das mais de 200 toneladas diárias de lixo produzidas no Brasil é um dos maiores problemas das grandes cidades, atualmente. Mais do que medida de saneamento básico, encontrar um local que receba o que nós mesmos rejeitamos é uma tarefa árdua e necessita de muita articulação política.

Numa cidade com uma população de mais de 500 mil habitantes, como Aracaju, esse lixo representa cerca de 40 toneladas diárias. Além do lixo doméstico, há o lixo industrial, hospitalar e comercial. E para onde vai todo esse resíduo? Vai para um “lixão” no bairro Santa Maria.

Lixão

No bairro Santa Maria, o lixo fica a ceu aberto, porque a Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb), que faz a limpeza dos espaços públicos da cidade e a coleta domiciliar, apenas descarrega o conteúdo dos caminhões sobre o solo, de forma inadequada, sem medidas de proteção ao meio ambiente ou à saúde. O lixo assim lançado traz problemas à saúde pública, uma vez que atrai uma quantidade enorme de insetos e roedores, que se proliferam e espalham doenças. Além de gerar mau cheiro e, principalmente, poluir o solo e as águas superficiais e subterrâneas através do chorume - líquido de cor preta, mau cheiroso e altamente poluidor produzido pela decomposição da matéria orgânica contida no lixo.

Outro problema dos lixões são os catadores de material reciclável, que ficam expostos à contaminação. Em geral, são famílias inteiras que moram nos arredores. Até as crianças perambulam em meio ao lixo, perdendo a infância e vivendo em condições sub-humanas, alimentando-se do que encontram por lá. Mais de 50% do lixo que produzimos e que forma os chamados "lixões" é composto de materiais que podem ser reutilizados ou reciclados. Agora imaginem quanto material que está ocupando esses espaços poderia ter tido outro destino. Atualmente, apenas 2% do total de lixo limpo de Aracaju é reciclado. No Santa Maria os catadores autônomos foram removidos e criaram a Cooperativa dos Agentes Autônomos de Reciclagem de Aracaju (Care). Com essa medida eles geram renda e não vivem mais em condições insalubres.

Entre o aterro e a usina

Os órgãos públicos já discutiram alternativas para o destino do lixo na Grande Aracaju, mas os prefeitos de três cidades que compõem a região metropolitana (Aracaju, Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão) parecem ter achado uma solução que agrada e atende aos municípios. No dia 17 de dezembro de 2009 assinaram um protocolo de intenções para construção de um aterro sanitário na região. "É o primeiro passo de uma longa caminhada rumo à solução de um problema histórico das nossas cidades", afirmou Edvaldo Nogueira, prefeito de Aracaju.

Após inúmeras discussões, a possibilidade de o aterro ser implantado em um terreno no bairro Palestina, em Socorro, vem sendo discutida e já estão sendo feitas pesquisas sobre o impacto ambiental que a região poderá sofrer, cujo resultado está previsto para o mês de fevereiro de 2010. Após isso, as prefeituras irão esperar o licenciamento de construção pela Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema).

O prefeito de São Cristóvão, Alex Rocha, afirmou que o fim dessa “problemática do lixo vai ajudar o meio ambiente”. Mas será que esta solução ajudaria mesmo? O tratamento do chorume eliminado pelos aterros sanitários reduz a poluição. Se houver a coleta de biogás e sua utilização, o Brasil pode sair ganhando, pois conforme o previsto no Protocolo de Quioto poderá obter como recompensa financeira a compensação por créditos de carbono. Depois que o aterro atingir o limite de capacidade de armazenagem pode se transformar num espaço verde ou de lazer e eliminar o efeito negativo. Dessa forma, a ajuda ao meio ambiente poderia se tornar uma questão de interesses políticos e econômicos.

Em sentido contrário à construção do aterro está o sociólogo e professor da Universidade Tiradentes Unit) Geraldo Viana, que defende a instalação de uma usina de valorização de resíduo sólido capaz de transformar a coleta em energia elétrica. Em Recife e no Rio de Janeiro existem projetos semelhantes de transformação do lixo. "Em termos de área utilizada, a usina consegue aproveitar dez vezes menos espaço que o aterro e custa somente um quinto do valor gasto em aterros, alem de utilizar a mão de obra dos próprios catadores", explica.

Mudança de hábitos

Enquanto não surgem soluções práticas e definitivas da falta de impacto e ajuda ao meio ambiente dos vários destinos que o lixo pode ter, um caminho é a adoção de hábitos saudáveis e a redução do lixo em busca de melhor qualidade de vida e preservação da natureza.


Esse é um processo fácil. Bastaria que utilizássemos a fórmula dos REs: Reduzir, Reutilizar, Recuperar, Reciclar e Repensar hábitos de consumo. Também ajudaria fazendo parte da coleta seletiva da cidade. No Brasil esta ainda é uma prática incipiente: pouco mais de 80 municípios,  concentrados nas regiões Sul e Sudeste, possuem o serviço.

Em Aracaju, 20 bairros fazem parte da coleta seletiva e basta que a comunidade manifeste interesse para que seja incluída. Parece não ser muito, mas a incorporação desses hábitos, além de mudar a nossa vida, funciona como uma reação em cadeia: melhora nossa casa, nossa comunidade, nossa cidade, nosso País e torna o mundo que a gente vive um lugar muito mais aprazível.










Para saber mais sobre reciclagem:

Fotos: Google

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