quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Consumo consciente - Crise exige pensar antes de comprar

Por Yasmin Barreto e Thamires Nunes

Ela chega em casa depois de um dia pesado de trabalho e vai direto à cozinha. Lá almoça e toma uma lata de coca-cola. Depois vai até a área de serviço e joga os restos do almoço em um latão de lixo e a latinha do refrigerante em outro. Separar o lixo faz parte da rotina de Virgínia Passos, que reclama da dificuldade para o descarte desse lixo. De acordo com ela, “são poucas as cidades que têm o serviço de coleta seletiva, a única saída foi buscar ONGs relacionadas e pedir para que recolhessem o lixo”. Virgínia é médica, tem 52 anos e é mãe de dois filhos, com ela, seus “grandes incentivadores na nova prática de seleção do lixo de casa”.

Selecionar o lixo orgânico dos demais é um ato simples, que pode tranquilamente ser inserido na rotina de qualquer família. Mas pesquisa do Ibope revela que, apesar de 70% a 80% das pessoas ouvidas terem boas intenções em relação a hábitos de preservação ambiental, apenas de 30% realizam as suas intenções.

Rotina como essa, de separar o lixo, é resultado de pensar no que se consome. Afinal, o ato do consumo não se resume apenas a comprar algo, envolve várias etapas e a compra é apenas uma delas. “Antes de comprar tem-se que pensar no produto, analisar se ele é mesmo necessário e, depois da compra, pensar no descarte daquilo que se comprou”, diz o professor do departamento de Biologia da Universidade Federal de Sergipe, Carlos Dias. Segundo ele, “a publicidade, como grande responsável pelo consumo descontrolado e sem previsão de conseqüências sociais e ambientais, é a grande vilã dos tempos atuais”.

Ao promover ideais de vida e beleza perfeitas, a mídia esquece de dar atenção aos problemas enfrentados pelo planeta e, mesmo sabendo de sua influência, não insere em seus meios mensagens de preservação ambiental, observa Dias. Um exemplo de que essa inserção pode dar certo é a atitude tomada por alguns programas de televisão ao divulgarem a substituição de sacolas plásticas pelas “ecobags” (sacolas ecologicamente corretas, feitas de pano ou lona), que agora são itens indispensáveis no kit de compras dos moderninhos: virou “cool” abolir os sacos plásticos.

Desacelerar o consumo é fácil?

Para Dias, a chave para se diminuir o consumo está no “investimento na educação, desde a base, pois as crianças serão os prejudicados num futuro não tão distante. Além de que elas são as que mais cobram atitudes responsáveis por parte dos pais”. Ele também cita o papel da mídia nessa mudança de comportamento, afirmando que esta “poderia aumentar a quantidade de informações e divulgar os meios de preservação, principalmente via televisão que hoje é responsável pelo comportamento de consumo das pessoas em nosso país”.

Soluções simples e adaptáveis ao cotidiano existem e podem ser postas em prática. A dificuldade é, de acordo com o relatório do Worldwatch Institute (organização americana de pesquisa dedicada à sustentabilidade) alterar uma cultura de consumo que já está impregnada na sociedade: “pedir para as pessoas que vivem em culturas de consumo para reduzir seu consumo é equivalente a pedir que elas parem de respirar – podem fazer isso por um momento, mas depois, sufocantes, vão inspirar novamente”.

De acordo com a Akatu, ONG que visa mudar o comportamento dos consumidores, “em 2006 as pessoas no mundo todo consumiram US$ 30,5 trilhões em bens e serviços, 28% a mais do que dez anos antes”. O relatório diz que o único meio de desacelerar o ritmo do consumismo na sociedade atual é mudar hábitos culturais e transformar o consumidor em agente da sustentabilidade, ou não adiantarão esforços governamentais ou avanços na tecnologia para salvar o planeta de riscos ambientais.

http://www.youtube.com/watch?v=Rkj_Xve5eRM

Foto: Portal do Ministério da Saúde.
Vídeo: Instituto Akatu, disponível no Youtube.